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Universo das Histórias: Onde Cada Palavra Cria Mundos

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Universo das Histórias: Onde Cada Palavra Cria Mundos

Entre Estações

Universo Das Histórias, Dezembro 1, 2024Dezembro 1, 2024

Capítulo 1 – Um Bilhete, Dois Destinos

O trem partia às oito da manhã, mas Laura já estava na plataforma desde as sete. O ar de Paris parecia diferente naquele dia. Era pesado e quase sufocante, como se carregasse o peso das decisões que não queria tomar. Com a câmera pendurada no pescoço, ela olhou para o céu cinzento e suspirou. A carta ainda estava em seu bolso. As palavras de sua mãe ecoavam na mente como um disco riscado:
“Não posso mais esperar que você esteja pronta. Vou viver a vida que me resta. Não se preocupe comigo.”

Laura fechou os olhos, tentando afastar o aperto no peito. Quando abriu, a locomotiva brilhava sob a luz fraca do amanhecer.

Ao longe, um homem alto, de cabelos castanhos ligeiramente desgrenhados, carregava uma mochila surrada. Gabriel estava acostumado a viajar sozinho, mas nunca se sentira tão deslocado como naquele dia. Havia uma tensão em seus ombros que nem o café amargo do bar da estação conseguira aliviar. Depois da consulta em Berlim, ele decidiu que precisava de um tempo para si mesmo, algo que não fazia desde antes do casamento desmoronar. “Por que não um trem?”, pensou. “Nada melhor do que movimento para esquecer o que está parado.”

Quando o apito soou, Laura e Gabriel embarcaram, cada um carregando sua própria bagagem — literal e emocional.


Dentro do vagão, Laura encontrou seu assento próximo à janela. O compartimento estava parcialmente vazio, o que a agradou. Ela estava acostumada a observar o mundo pelo visor de sua câmera, mantendo distância segura. “Quanto menos interação, melhor”, ela sempre dizia a si mesma.

Do outro lado do corredor, Gabriel colocou a mochila no porta-bagagens e sentou-se, retirando um livro da mochila. Ele olhou pela janela, tentando se perder na paisagem que começava a se mover. Mas algo chamou sua atenção: o clique repetitivo da câmera de Laura.

“Você fotografa profissionalmente?” — ele perguntou, em um tom amigável.

Laura levantou os olhos, surpresa pela interrupção. “Sim… sou fotógrafa. E você, gosta de livros antigos ou isso é só para parecer interessante?”

Gabriel sorriu de canto. “Um pouco dos dois. Mas principalmente porque eles não têm notificações que me distraiam.”

A resposta fez Laura rir, quase sem querer. Ela rapidamente voltou a focar na câmera, como se temesse que a conversa fosse durar mais do que deveria. Gabriel percebeu, mas não insistiu. Ele sabia reconhecer uma barreira quando via uma.


A viagem seguia tranquila até que, em uma parada em Lille, um grupo de turistas entrou no vagão, lotando o espaço. Um erro de reserva colocou Gabriel no assento ao lado de Laura. Ela suspirou audivelmente quando percebeu que o silêncio que tanto prezava estava prestes a ser destruído.

“Prometo não falar muito”, disse Gabriel, ao se sentar.

“Se você conseguir não roncar, já é suficiente”, respondeu Laura, ajeitando os fones de ouvido.

Mas o destino tinha outros planos. Quando o trem começou a se mover novamente, um som estridente ecoou pelo vagão: uma falha no sistema de áudio, seguido por um anúncio de que haveria uma longa parada imprevista em Bruxelas.

“Bem, parece que teremos tempo para conversar, afinal”, disse Gabriel.

Laura revirou os olhos, mas, pela primeira vez, uma pequena parte dela não se importava tanto.

Capítulo 2 – Parada Inesperada

O trem desacelerou, e a voz no alto-falante, apesar de abafada, anunciou a chegada a Bruxelas com uma desculpa por um atraso técnico. Gabriel olhou pela janela enquanto a estação ganhava vida. Turistas apressados, mochileiros sentados no chão, casais tirando fotos diante do letreiro da cidade. Ele olhou de lado para Laura, que parecia inquieta.

“Vamos descer?” perguntou ele.

Laura arqueou a sobrancelha, como se a pergunta fosse absurda. “Eu não viajo para fazer amigos”, respondeu, com um tom quase defensivo.

“Bom, nem eu”, disse Gabriel, com um sorriso. “Mas sempre dizem que uma boa conversa ajuda a passar o tempo.”

Laura olhou pela janela, pensando. Ela não sabia exatamente por que concordou, mas minutos depois os dois estavam na plataforma, caminhando pelo centro da cidade.


Nas ruas de Bruxelas, a arquitetura gótica e os aromas de waffles e chocolate os envolviam. Laura pegou a câmera e começou a fotografar. Gabriel, a certa distância, observava-a. Era fascinante como ela parecia perder-se completamente quando olhava pelo visor da câmera, como se o mundo se tornasse mais fácil de entender através das lentes.

“Por que fotografia?” ele perguntou, quebrando o silêncio.

Ela abaixou a câmera e pensou por um momento. “Porque é mais fácil capturar o momento do que vivê-lo.”

Gabriel não esperava aquela resposta. Ele hesitou antes de perguntar: “E você não acha que viver vale mais a pena?”

“Nem sempre”, respondeu ela, apressando o passo. Gabriel a seguiu, sentindo que havia tocado uma ferida.


Capítulo 3 – Reflexos no Vidro

De volta ao trem, Laura estava calada, mexendo nas fotos que tirou. Gabriel decidiu respeitar o silêncio, mas sua curiosidade crescia. Ele viu algo nela que reconhecia em si mesmo: a dificuldade de seguir em frente.

Enquanto a paisagem se movia do outro lado do vidro, Gabriel relembrou o fim de seu casamento. Ele não falava disso com ninguém, mas a proximidade inesperada de Laura o fez querer contar algo.

“Eu costumava viajar com minha ex-esposa”, começou ele, sem saber se Laura ouviria. “Planejávamos conhecer o mundo inteiro. Mas, no fim, nem conseguimos nos conhecer de verdade.”

Laura olhou para ele, surpresa pela vulnerabilidade. Ela hesitou, mas finalmente perguntou: “O que aconteceu?”

“Eu fiquei doente”, disse ele, sua voz quase um sussurro. “Ela disse que não estava pronta para ser uma cuidadora. Eu disse que não precisava ser. Mas acho que ambos sabíamos que era mentira.”

Laura não respondeu de imediato. Ela olhou pela janela, tentando processar o que ele disse. Ela não sabia o que era pior: perder alguém de repente ou vê-lo partir aos poucos. Pela primeira vez, ela sentiu que talvez não fosse a única a carregar cicatrizes.


Capítulo 4 – A Biblioteca de Amsterdã

Na manhã seguinte, o trem parou em Amsterdã. Laura decidiu explorar a cidade, desta vez convidando Gabriel para ir junto. Era uma pequena mudança, mas significativa. Caminharam pelos canais e entraram em uma biblioteca antiga. Gabriel pegou um livro e o folheou enquanto Laura tirava fotos.

“Você sempre se esconde atrás da câmera?” perguntou ele, sem tirar os olhos das páginas.

“Você sempre se esconde atrás de livros?” retrucou ela.

Gabriel riu. “Tocada.”

Enquanto andavam pelos corredores, Gabriel comentou: “Sabe, as coisas podem ser bonitas mesmo quando imperfeitas. Como esta biblioteca — cheia de rachaduras, mas ainda assim grandiosa.”

Laura parou, refletindo. “Eu não sei se acredito nisso. Sempre tentei capturar a perfeição.”

“E encontrou?”

Ela balançou a cabeça, incapaz de responder.


Capítulo 5 – Conflito

Na próxima parada, Gabriel e Laura tiveram uma discussão. Ele a acusou de fugir de seus sentimentos, de se esconder atrás das lentes. Ela rebateu, dizendo que ele estava sendo paternalista, julgando-a sem saber o que ela havia enfrentado.

“Você não sabe o que é perder alguém e se sentir culpada por isso todos os dias!” gritou Laura.

“Não, mas sei como é perder a si mesmo”, respondeu Gabriel, com firmeza.

Eles se afastaram, sentindo o peso de suas palavras. Ambos perceberam que estavam com medo de se aproximar, mas o orgulho os impediu de se desculpar imediatamente.


Capítulo 6 – Reencontro em Veneza

Sem querer, Laura e Gabriel se encontraram novamente em Veneza. Laura estava fotografando a praça de São Marcos quando ouviu uma voz familiar.

“Você ainda me odeia?” perguntou Gabriel, com um sorriso hesitante.

Laura suspirou. “Não. Só… não estou acostumada a confiar em ninguém.”

Eles conversaram, e Laura finalmente contou sobre seu irmão e como ela se culpava pelo acidente. Gabriel, por sua vez, revelou mais sobre sua condição e seu medo de depender de alguém. A conexão entre eles se fortaleceu.


Capítulo 7 – A Escolha

Quando Laura recebeu a notícia sobre a doença de sua mãe, ela decidiu voltar para casa. Gabriel, inspirado pela coragem dela, decidiu enfrentar sua própria realidade, prometendo que não deixaria a doença defini-lo.

“Você vai comigo?” perguntou ela.

Gabriel sorriu. “Se você me deixar carregar a mala.”


Capítulo 8 – Um Novo Começo

Meses depois, Laura abriu sua exposição fotográfica, intitulada Entre Estações. Cada imagem capturava momentos de sua jornada — desde a solidão de Paris até a luz dourada de Veneza. Gabriel estava ao seu lado, agora parceiro não apenas na viagem, mas na vida.

“Então”, disse ele, enquanto olhava para uma das fotos, “ainda acha que a perfeição é o que importa?”

Laura riu e apertou sua mão. “Não. O que importa é estar em movimento. Juntos.”

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